e-mail: crisdakinis@gmail.com
"Poema molhado", em homenagem à escritora Conceição Evaristo, selecionado pelo Concurso literário da Revista SerEsta
https://www.amazon.com.br/gp/product/B0CGT9N7Z1/ref=dbs_a_def_awm_bibl_vppi_i1
Participação a convite da Profa. Cleise Campos. Sorteio de exemplares do meu livro de poesia Adágio ensolarado. Outubro, 2023.
Magia Negra
Exposição Lítero-visual poética do 11º Festival Gastronômico de São Lourenço / MG, com as Acadêmicas da AFESMIL, ao longo do mês de setembro de 2023.
Meu poema "Baunilha" fazendo parte do cardápio poético da AFESMIL.
Com a publicação do meu poema "Artista do amor"
Artista do amor
Conto premiado:
A testemunha
Aproximou-se da grade e olhou para fora. Sentia-se protegida ali,
absurdamente livre. E ela novamente lembrou-se do papagaio...
Gaio era paciente. Luana fez um carinho na ave e estremeceu ao ouvir os
chinelos do marido atravessando o corredor. Gilberto reclamou que a situação só
piorava e resolveu sair, mas antes decidiu voltar para repetir o aviso: ela que
se livrasse daquela ave o mais rápido ou ele o faria __ não queria mais aturar
aporrinhações. Ameaça feita e refeita, o marido foi almoçar seu galeto com
prato feito no bar da esquina, onde comeria sem esquentar os ânimos.
Luana alimentou a ave e foi recolher a roupa estendida a secar. Reparou a
vizinha a olhá-la pelas frestas do portão lateral. Droga de condomínio que
construíra aqueles muros com portão geminado! Daí, percebeu que a vizinha a
observava com um sorriso estreito e insondável. E foi nesse momento que a dona fez
propaganda de seus serviços de doceira. Encabulada, Luana agradeceu a oferta, desconfiada
de que a vizinha certamente lhe oferecia doces porque lhe adivinhara a amargura
diária.
Ao abrir a gaveta dele para
guardar as roupas, Luana viu a arma. Apanhou o revólver para ver se era de
verdade. Era. Ela decidiu levar a arma para a cozinha, guardando-a debaixo dos
panos de copa, frustrando qualquer ato de insanidade.
O marido chegou, seguiu para a cozinha, olhou-a e pediu um café. Depois,
encarou-a com um ar desafiador e dispensou o café, rumando para o quarto. Luana
ficou atenta e ouviu o ruído da gaveta do armário. Arrependeu-se de não ter
dado conversa à vizinha, poderia ter aceitado uma prova de doce. Gilberto certamente dera pela falta da
arma... Ele seguiu para a cozinha e lá estava Luana.
Um tiro, outro e depois mais outro ecoaram largamente, além dos ladrilhos
da copa, pelo condomínio inteiro.
Não atira. Não atira, mulher! O
papagaio repetia o tempo inteiro: Não
atira. Não atira, mulher!
Luana aproximou-se da grade e olhou para fora. Sentia-se protegida ali,
absurdamente livre, em sua cela novamente. E lembrou-se do papagaio... A
testemunha.
CASA DA FLOR
Ouço o vento Sudoeste
cantar desde Cabo Frio,
no vento ruidoso de agosto...
Para mim,
olho de moinho é
miolo de margarida,
semeada em muros e paredes,
que amornecem meus dias....
Deito flor de cacos ao chão,
pedaços de pratos,
e suas pétalas pintam as pás
do doce moinho que gira,
empurrando o mar
para longe do sal.
Nas salineiras,
voam margaridas ao vento,
enquanto cultivo riqueza
à entrada de minha casa pobre,
feita de caco, feita de cor.
É que anjos vivem de sonhos
e eu sonho com o vento
sussurrando no frio da lagoa,
que casa tem de ser assim:
tesouro com "coisinhas de
nada",
no semeio da Região dos Lagos,
acolhendo visitantes,
do Brasil todo, e do exterior
à Casa da Flor.
Relíquia de Gabriel dos
Santos,
de São Pedro da Aldeia,
o anjo que edificou.
@CrisDakinis
Verso e reverso
No meio do caminho
fui verso e reverso,
pedra angular e pedra tumular.
Fui dilema, problema e fadiga
dureza, cisco no olhar e aflição...
Mas também, no meio do caminho,
que Drummond não trilhou sozinho,
abrandei minha rigidez
e fui, ao menos uma vez,
algo plano, fui a esperança,
que o poeta revelou no atalho
sinuoso de sua pena,
fui inspiração, sua obra, sua lide,
fui, enfim, a rocha e o senão,
no vértice de sua criação.
Campeão
Simões não se cansava de admirar Campeão. Este é o boi mais bonito que existe! E
relembrava a infância, quando chegara com seus pais àquela cidade. Ele espiava
bois ao longe, em pasto alheio. Debaixo do céu azul e sem nuvens, o vento
sorrateiro lhe voava o chapéu e o pai ria. Bichos
bonitos aqueles, filho! Um dia teremos os nossos. O menino Simões ficava a
sonhar com o tal dia e calculava o espaço gramado ao redor da casa onde poderia
criar um boi só dele, de estimação, chegando até mesmo a escolher o nome do
animal com antecedência: Campeão. Talvez por relembrar conversas acerca dos
rodeios que ouvira ainda pequenino na pátria deixada além-mar; talvez porque
confundisse a rotina de um boi com a de um cavalo, sonhando com uma futura glória
nos páreos.
A esposa chamou-o para ajudar a servir o almoço
aos fregueses, despertando-o das antigas lembranças. No espaço avarandado,
todas as mesas ocupadas. Trabalhadores famintos aguardavam a vez. Eram três
horas seguidas em que ele e a patroa cuidavam
de atender, deitando e recolhendo pratos às mesas. E eram as horas mais quentes
do dia... O calor da cozinha se espalhava para a bancada de comida e para a
varanda; e o calor do sol da tarde adentrava a casa toda. Todos os dias iguais,
com exceção do domingo. A família cozinhando, lavando louça, fazendo o caixa,
servindo. E as mesas de refeição ocupadas, lado a lado, sorrindo-lhes com o
ganha-pão.
Junto com o boi Campeão, Simões adquiriu o
Choquito, outro boi, que não era elegante como Campeão, mas que lhe rendeu o
prazer do investimento, podendo, desta forma, chamá-los no plural de “bois”.
Seu pai, a este tempo, avançado em idade, admirava o filho a falar da rotina do
pasto, discutindo acerca de gado... Realmente,
dizia o pai, Campeão tem porte de artista,
é bem-apessoado, de pelo brilhante, um belo animal. Foi então que aconteceu
uma reviravolta de ordem econômica a Simões, comprometendo-lhe o capital. Ainda
bem que, àquela altura, ele já tinha o seu teto e comércio relativamente garantidos
para si e para a família, porém sentiu nos ombros o peso que o pai antes
conhecera na pátria lusa. Simões precisou levantar dinheiro extra para cumprir
compromissos. E o resgate disponível era vender um boi. Resolveu então vender o
Choquito.
Ainda cedo, céu azul e nenhuma nuvem. Um vento morno vinha da lagoa próxima, se bom
ou mau vento, Simões não sabia, mas avistou, enquanto cuidava do pasto, o
comprador que lhe fora indicado para negociar. O gajo chegou. Ficou a olhar o Choquito
por meio minuto. __ Quero o outro e pago
bem. A surpresa quase derrubou Simões. Como
assim, o outro? Por que não tivera a ideia de guardar o Campeão? Estava claro
que aquele boi ia chamar mais a atenção do comprador... Mas onde se poderia
esconder um animal tão grande? Tudo isso Simões se perguntou em silêncio.
Se a surpresa quase o derrubou, a responsabilidade o reergueu.
Depois que Campeão partiu, Simões era só
tristeza. Dava um dó tamanho vê-lo sem o Campeão. A esposa se afligia, o pai se
inquietava, os filhos se calavam... Na manhã do terceiro dia sem o boi, Simões
foi atrás do fazendeiro. Daria o Choquito
em troca e pagaria um valor adicional, mas traria o Campeão de volta. O
fazendeiro era um comerciante ocupado e não quis conversa de devolver boi. __ Que boi esse? Já foi para o abate! Não tem
mais nenhum boi teu aqui...
Ao longe, o céu azul, nenhuma nuvem. O vento
sobreveio ao chapéu, voando longe. Mais distante ficou a esperança de reaver o
boi Campeão. Por fim, Simões resolveu fazer novo acordo com o mercador: entregaria
o boi Choquito a ele e, se dentro de dois meses, Simões não pudesse dobrar o
valor de Campeão em dinheiro para lhe pagar, ele então entregaria os dois bois
ao negociante. Era uma insanidade,
cogitava Simões. O pai deixou-o resolver sozinho, não queria interferir. A
esposa olhava-o ansiosa. Todos em casa sabiam de uma coisa: ia faltar dinheiro
se Campeão voltasse. Irrecusável a proposta, no entanto, o comprador de Campeão
não o quis devolver, e por maldade, pura maldade __ para que avisou? __ Mandou
comunicar que o boi iria para o abate.
Simões ouvia o boi mugir toda vez que ali
chegava para tentar renegociar, e era bem possível que a sua imaginação o
iludisse, fazendo-o imaginar ouvir as lamúrias do boi. Porém Simões pressentia
que Campeão queria voltar para o pequeno e antigo pasto. E daí, ele decidiu-se
por um ato de loucura: foi ao banco mais próximo e levantou a quantia do boi a
juros altos, tomou do dinheiro vivo e voltou à fazenda do salafrário. Não ouviu
mugido dessa vez e o seu coração apertou.
O céu azul, sem nuvem nenhuma, um vento morno na tarde avançada soprou da lagoa enquanto Simões almoçava, quando ouviu a pequena neta indagar se era verdade que ele não comia carne de boi. Ele relembrou o amigo Campeão, a antiga precisão do dinheiro, o comprador que dificultou seu sossego, o adeus. E sua vista embaçou as lentes dos óculos, refletindo a paisagem cercada pela lagoa salgada próxima. Ele meio que sorriu à curiosa menina, apontando para a boca cheia de comida que o impedia de responder.
(Conto já classificado em terceiro lugar no Prêmio Mário Quintana / Sisejufe / RS)
18 de abril é o Dia do Livro Infantil e 19 de abril é o Dia dos Povos Indígenas. Escreva uma frase para este meu livro aqui na postagem nos dias 18 ou 19 para concorrer a um exemplar autografado. ;)
Dia produtivo na Feira de Livros de SPA, com a presença da Presidente da UBE-RJ Marcia Barroca, do presidente honorário Edir Meireles, de talentosos colegas de escrita e leitores de todas as idades. Além da organização impecável do stand da Secretaria de Cultura, coordenada pela querida e competente Rosângela Guimarães Rosangela Guimaraes Ribeiro.
Dia 08/03 ganhou mais um significado lindo para mim. Tomarei posse como Acadêmica Correspondente da ACADEMIA FEMININA SUL-MINEIRA DE LETRAS (AFESMIL), Poços de Caldas / MG. Muito honrada e grata, AFESMIL! E celebremos nosso dia da mulher.