Na vida que escoa por entre os dias,
No tempo que escorre por entre as mãos,
No fluxo de amores que desaguam no ralo,
Como dejetos que se vão, aos poucos,
No lamaçal após uma enchente.
Em meio ao raso dos sentimentos,
Sinto-me atolar na superfície,
Presa pelos cabelos como anacrônica Ofélia.
E simulo amenidades
Diante daqueles incapazes de perceber o próprio fingimento
Nos passos de uma coreografia repetida à exaustão.
Sigo, por um fio,
Como um fio de cabelo que segue o ritmo da chuva:
Voando ao vento,
Flutuando na poça,
Aprisionado no esgoto,
Servindo de liga ao lodo viscoso que se forma.
Hera sem muro ou parede,
Agarra-se, patético e carente,
A qualquer sujeira que lhe acene.
Simbiótico, funde-se a ela,
E se esquece de que um dia já teve uma raiz.
Tatiana Alves
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