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Participação a convite da Profa. Cleise Campos. Sorteio de exemplares do meu livro de poesia Adágio ensolarado. Outubro, 2023.
Magia Negra
Exposição Lítero-visual poética do 11º Festival Gastronômico de São Lourenço / MG, com as Acadêmicas da AFESMIL, ao longo do mês de setembro de 2023.
Meu poema "Baunilha" fazendo parte do cardápio poético da AFESMIL.
Com a publicação do meu poema "Artista do amor"
Artista do amor
Conto premiado:
A testemunha
Aproximou-se da grade e olhou para fora. Sentia-se protegida ali,
absurdamente livre. E ela novamente lembrou-se do papagaio...
Gaio era paciente. Luana fez um carinho na ave e estremeceu ao ouvir os
chinelos do marido atravessando o corredor. Gilberto reclamou que a situação só
piorava e resolveu sair, mas antes decidiu voltar para repetir o aviso: ela que
se livrasse daquela ave o mais rápido ou ele o faria __ não queria mais aturar
aporrinhações. Ameaça feita e refeita, o marido foi almoçar seu galeto com
prato feito no bar da esquina, onde comeria sem esquentar os ânimos.
Luana alimentou a ave e foi recolher a roupa estendida a secar. Reparou a
vizinha a olhá-la pelas frestas do portão lateral. Droga de condomínio que
construíra aqueles muros com portão geminado! Daí, percebeu que a vizinha a
observava com um sorriso estreito e insondável. E foi nesse momento que a dona fez
propaganda de seus serviços de doceira. Encabulada, Luana agradeceu a oferta, desconfiada
de que a vizinha certamente lhe oferecia doces porque lhe adivinhara a amargura
diária.
Ao abrir a gaveta dele para
guardar as roupas, Luana viu a arma. Apanhou o revólver para ver se era de
verdade. Era. Ela decidiu levar a arma para a cozinha, guardando-a debaixo dos
panos de copa, frustrando qualquer ato de insanidade.
O marido chegou, seguiu para a cozinha, olhou-a e pediu um café. Depois,
encarou-a com um ar desafiador e dispensou o café, rumando para o quarto. Luana
ficou atenta e ouviu o ruído da gaveta do armário. Arrependeu-se de não ter
dado conversa à vizinha, poderia ter aceitado uma prova de doce. Gilberto certamente dera pela falta da
arma... Ele seguiu para a cozinha e lá estava Luana.
Um tiro, outro e depois mais outro ecoaram largamente, além dos ladrilhos
da copa, pelo condomínio inteiro.
Não atira. Não atira, mulher! O
papagaio repetia o tempo inteiro: Não
atira. Não atira, mulher!
Luana aproximou-se da grade e olhou para fora. Sentia-se protegida ali,
absurdamente livre, em sua cela novamente. E lembrou-se do papagaio... A
testemunha.