sexta-feira, 27 de abril de 2018

Janelas ao vento


Fotos: *Cris Dakinis

Areia e cheiro de mar
no rastro da soleira
de tua porta.

Fadiga
das janelas ao vento,
abandonadas
a desbotar
o azul das venezianas,
tatuando a parede
antes florida, antes viva.

O sol cai por detrás
das telhas mornas,
e há ainda tanta presença de vida...
Porém ninguém me atende mais
chamar ao portão.

*Cris Dakinis

(Poema finalista do Prêmio Augusto dos Anjos, Leopoldina / MG - 2017)
Troféu caneca personalizada, presente da declamadora Neuza Manca

Plágio é crime. Respeite os direitos autorais, mencionando os créditos de autoria.

Em algum lugar do Passado - micro conto do livro Mania de Grandeza, Cris Dakinis

                                            Capa do DVD                                                                                                                                                           Capa do livro: ilustração de Thiago Ruivaco Aguiar

Em algum lugar do passado
No lago, ao som de Rachmaninoff, a bela dama contemplava o jovem escritor a remar contra o tempo para reencontrá-la eternamente.
*Cris Dakinis

(mini conto do livro Mania de grandeza, 3º lugar np Prêmio Miau em livro de prosa, Ed. Livros Costelas Felinas,2018)

Plágio é crime. Respeite os direitos autorais, mencionando os créditos de autoria.

Elipse - Cris Dakinis


Elipse

Segue qual folha seca pelo vento
Sem rumo ou meta, pensa no agora
Galga desníveis pelo mundo afora

Vive ilusão e arroubos do momento
Drummond versou José no sofrimento
E o tolo? Esse finge que lhe aflora
Um fardo nobre, o lúgubre lamento
E a fantasia de quem também chora

Mas a verdade é que o mundo real
Não presenteia o tolo em pantomima
E descortina a farsa teatral...

Desentendendo o que o mundo ensina
O seu trajeto faz-se todo igual
E a sua roda gira a mesma sina...

(soneto do livro Adágio Ensolarado)

Tardes de abril

foto: Getimage



Enquanto a lagoa desenha

a estampa sonora

da revoada de passarinhos

de volta aos ninhos,

eu flerto com o entardecer

posto que nos sintonizamos

com as árvores barulhentas

e o aroma das folhas verdes

na orla salgada e úmida...

Há um ritual pagão 

nas tardes de abril: 

a areia perdendo o bronze 

o horizonte ganhando lume 

o vento morno e moroso 

a chuva por acontecer... 

Uma coruja antecipa o anoitecer 

no teto baixo da nuvem fria, 

o silêncio dorme em cada ninho, 

e eu retomo o meu caminho.


*Cris Dakinis

Telas


A mesa da cozinha
exibe uma janela
na tela...


Plágio da vista 

lá fora agora.

No moinho, as pétalas
da margarida colorida
aquarela o céu azul,
a serra verde limão,
o sal branco no chão,
seu miolo é o sol,
obra de Thiago e Carol.
E eu só vejo São Pedro da Adeia
hasteando a bandeira brasileira.


*Cris Dakinis

Perfume de outono



O cheiro ativo de ameixa,
chá, laranja, baunilha e mel
desce os degraus de madeira,

atravessa a soleira úmida
e debruça-se à janela nublada,
sob telhas salgadas de areia...
Ignoro flores,
sem jasmim,
sem carmim,
sem jardim,
sem canteiro...
Deixo o chuveiro,
e preguiçosamente fresca,
visto o aroma frutal
de um amanhecer outonal.


*Cris Dakinis

Na noite de Diamantina


Recebo a foto
de uma igrejinha
histórica, relíquia mineira...

É a imagem noturna
de uma grande pequenina
debaixo de um céu cobalto
onde luzes de lampiões
flutuam como velas acesas
ao redor, em adoração.

Eu adivinho
a lua a espiar lá de cima,
ansiosa por ser ela a pérola
desta caixinha de joias
que cintila silenciosa,
humilde e luminosa
na noite de Diamantina.

*Cris Dakinis

De flores e anjos - Cris Dakinis


De flores e anjos

Nem tudo são flores,

há céu e chão,

fome e pão,

sim e não,

e dores, males no mundo

a cultivar o próprio umbigo.

Mas além surge um alguém

que faz sol e que dá flor,

e recolhe a chuva densa

que inundava nosso colo.

Que seca o sal desse solo,

tosa, livra-nos de espinhos,

e reconstrói o jardim.

É amigo se for assim,

quando tudo são novas flores,

é anjo, é canção, é querubim.

Cris Dakinis