quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Relógio louco




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Na sala da casa de minha avó

Reparei que o relógio

enlouquecera...

Antes, aparecia só o cuco

a cada hora batida

Mas por estar o aparelho maluco

Não havia mais ave repetida!

Às seis horas o cuco cantava

Às sete, tomava sua vez um canário

Às oito, o mais esquisito:

um chilrear de periquito!

Aves em camurças multicores

Tons de azul, laranja, furta-cores

Aves, parem com isso! __ Eu pedia

Só apareciam pra mim...

Lá vinham as nove horas, e eu ouvia

O canto de um melro carmim!

Menina, isso não existe...

Dizia minha avó a sorrir

Nisso, outra ave surgia

da portinhola que abria

Quieta, eu ouvia a cantiga

de um canoro sabiá...

E vovó a me perguntar:

__ Você aprendeu a assoviar?

O relógio louco...

Os pássaros vários...

Em cantos e cores alternantes

Mas isso foi antes, bem antes...

Antes de eu ficar adulta...

Depois o relógio ficou normal

Hoje, somente o pássaro cuco aparece

O relógio ficou sério e desloucado

* Cris Dakinis

*Integra o livro POR ARTE DE MAGIA

GEODÉSICA por Flá Perez

GEODÉSICA

Você diz que nesse andar,
sou horizonte sempre
e não chego ao Algum Lugar.

Que serpenteio, bailo
versejo pelas ruelas,
que sou elipsoidal
e ando em círculos
nas paralelas.

Mas meu corte é a transversal
onde você caminha,
mesmo que eu trance as pernas.

Nem que se apaguem linhas,
ainda assim,
cabem perfeitamente em mim
as suas taras.

Quer saber de verdade, cara,
o que me dana?

Essa distância entre nós
ser muito plana.

O que me estaca, o que me mata,
é a menor distância entre dois pontos,

que é muito chata.