segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EM AGOSTO DE 2009


3º LUGAR NA CATEGORIA CRÔNICA NO CONCURSO LITERÁRIO DA ACADEMIA ITAPEMENSE DE LETRAS COM A CRÔNICA: "O LIVRO DO MUNDO"
DESTAQUE NA ACADEMIA CACHOEIRENSE DE LETRAS/ES


O LIVRO DO MUNDO

(Cris Dakinis*)


Chego em casa e meu filho anuncia que escreveu um livro: “O Livro do Mundo”. O nome é sugestivo... Penso comigo que deve ser algo sobre animais, plantas, ou seja, coisas que ele deve conceber ser o mundo. Talvez seu quarto esteja desenhado ali; o pai, o avô... De logo, encontro-me absorta com os desenhos e as anotações que ele exibe e reflito: aos seis anos eu desenhava casas e árvores; gatos e cachorros; gente com corpo-de-palito e florezinhas...
Meu filho desenhou o planeta Terra com lágrimas saltando da parte líquida do globo e explica ao apontar para a palavra abaixo do desenho: “chorando”. Daí segue-se, a cada página do seu livro, uma sequência de desenhos a respeito da preservação do meio ambiente. Eu cismo...
O fato do ser humano ter degradado o planeta em aproximadamente pouco mais de um século onerou-nos dessa responsabilidade __ ou irresponsabilidade __ que é proposta aos herdeiros da Terra: às crianças. A elas entregamos o encargo de encontrar soluções __ às detentoras de criatividade. Há de se criar, ou melhor, recriar o mundo, que é também delas e será de seus descendentes. Mas que mundo lhes passamos?
Lembro-me, quando na escola, de termos discutido sobre os perigos do aquecimento global, mas não era tema que nos propusesse inspirações para desenhos nas horas livres. Havia alertas sobre a poluição do meio ambiente, entretanto, não debatíamos, por exemplo, sobre o destino das garrafas “pet” de plástico, até porque, isso nem existia, pois as garrafas de refrigerante eram de vidro. Quando as garrafas plásticas surgiram no mercado, disseram-nos que eram mais práticas e econômicas. Ninguém sabia que não eram biodegradáveis. Lá em casa, ninguém sabia, não! Voltávamos do supermercado com sacolas de papel, cujas alças eram resistentes e as aproveitávamos para usos posteriores. Quando surgiram as sacolas plásticas, a idéia era de que eram mais higiênicas e práticas. O descartável era o “ideal”. Nunca mais vi copinhos de refrigerante feitos de papel em festas infantis. Lenços de tecido? Jamais! Os lenços descartáveis eram bem mais higiênicos! Tudo passou a ser descartável... E agora vejo meu filho beber água e despejar o que sobra no copo num vaso de planta para aproveitar a água. Está certo! Só não entendo por que não fizemos isso antes de poluirmos o planeta todo.
Voltando ao “Livro do Mundo”... Os desenhos ao longo das páginas ilustram a separação do lixo por lixeiras coloridas. Em cada uma delas, o material apropriado é desenhado entrando pelas lixeiras adentro... Devo admitir que os desenhos são lindos, mas que eu preferia ver meu filho desenhando um pássaro ou uma floresta... No entanto, entendo que é chegado o tempo de consertar: reutilizar e reciclar (ele fala em reciclar como eu falava em pedalar minha bicicleta quando possuía sua idade). Há no livro também: pneus, pedaços de troncos e latinhas de conservas. __ tudo amontoado junto a uma lagoa cinzenta cheia de mosquitos riscada por um enorme X __ o proibido, o que não devemos fazer. Noutra página, encontro o desenho de uma vassoura __ ela sozinha na página. Debaixo dela está escrito: “Mundo Limpo”. Afinal, eu vejo desenhos animadores e coloridos: o mundo sorrindo e uma imensa lagoa com peixes coloridos; o texto diz: “Mundo Feliz”.
Volto a acreditar num mundo lindo, porque seus herdeiros estão empenhados em solucionar os desafios da degradação do meio ambiente e já não me sinto culpada de beber meus oito copos de água ao dia (sem desperdiçá-los!).
Em vários lares, eu creio, há crianças desenhando, criando e recriando o mundo que possuímos um dia. “O LIVRO DO MUNDO” tem um final feliz. Que alívio para todos nós!