domingo, 8 de junho de 2008

Sinal de alerta


Sinal de alerta

Fique atento ao assédio: o tédio não alivia

quando o céu escurece e o tempo esfria.

Pode estar de tocaia no desvão de um prédio

ou nas dobras do coração.

Voraz ou não, fugaz ou persistente.

Mas sempre se faz presente e não alivia

quando o céu escurece e o tempo esfria.

(Wanderlino Teixeira Leite Netto - Poeta pertencente à Academia Niteroiense de Letras)

sábado, 7 de junho de 2008

NOITE SEM LUAR



(Menção Honrosa no III concurso de contos da cidade de Cordeiro/RJ/Dezembro 2007)

Noite de longa escuridão foi aquela...
Começou às 19:64.
_ 19:64? E isto por acaso existe? Os minutos vão até cinqüenta e nove, ora!
Não existe mais; mas já houve. E foi entre 19:64 e 19:84, aproximadamente, que durou aquela Noite. Depois, clareou lentamente. Bem aos poucos clareou. Veio o dia, mas restaram nuvens e torrentes remanescentes daquela escuridão nefasta.
Quando uma noite é prolongada, a maioria dorme. Mas naquela Noite sem Luar, se não fosse para espreitar e contar que tinha gente alerta, que tinha gente fazendo barulho, ou pior, se não fosse para “vigiar”, não era permitida a vigília. Era obrigatório dormir; nem que fosse de fingir.
Vigília lembra soldados. Soldados ficam de prontidão. Pois não são eles que defendem a Nação? Mas que Nação esta, que dormia numa penumbra prolongada do absurdo? O dia veio... Mas demorou uns vinte anos para ressurgir, e como dito lá em cima: cheio de nuvens.
Mais intrigante que a duração da noite nos minutos desencontrados, foram os relatos e desencontros de pessoas desaparecidas naquela Noite sem Luar.
__ Jovens saíram de faculdades? Eles ainda não chegaram em casa? Hum...
Se eram estudantes de Filosofia, Comunicação ou de Sociologia, o breu daquela Noite sem Luar caía sobre eles com tamanha intensidade!
__ Ah, eram músicos? Eram artistas? Eram ativistas? Ih... Jovens com tais predicados logo desapareciam na densa escuridão. De nada adiantava serem de famílias influentes, pois a Noite sem Luar dificilmente devolvia suas “presas”.
A Noite sem Luar fora feita para um sono prolongado. Vivia bem quem mantinha os olhos fechados.
__ Dava para conversar nem pouquinho? __ Pouquinho, só se fosse baixinho. Era torcer de não ser escutado, ou preparar as malas e rumar para outro lado.
__ Outro lado? Então havia claridade?
__ Mas claro! A escuridão não cobria toda face terrestre. No entanto, onde ela permanecia, o barulho era só de patrulhas buscando os insones para explicar a desobediência... Tal como pais autoritários que vigiam e ordenam: __ Calem-se! Teve até artista a cantar “Cálice”! Tão logo, algum indesejado barulho fosse ouvido, lá vinha uma reprimenda: um terrível castigo.
__ Mas se era tão intensa essa Noite sem Luar, como faziam as pessoas para se verem? Como faziam? Aguardaram tanto tempo para falar?
__ Ora, foi justamente porque houve os que falaram, os que, de fato, gritaram por descontentamento: gritos lancinantes de sofrimento, que fizeram as trevas enfraquecerem.
Houve estrondosa felicidade quando os filhos, antes repreendidos, retornaram livres. Aí sim, houve “Alegria Alegria” pois a liberdade é requisito essencial para a trilha esclarecida em uma sociedade feliz.
Já são 20:08... O relógio até parece estar em ordem...


Cris Dakinis *